Neste primeiro post do blog não posso deixar de falar sobre os fatores que nos levaram a decidir deixar o Brasil e morar no Canadá.
É um assunto bem sério e não pretendo mais fazer críticas duras como as que farei aqui, mas acho necessário até mesmo como uma “lembrança” para mim mesma dos porquês – quando estiver no Canadá, com aquela saudade difícil da família, e talvez do clima e da comida.
Acho que esse momento pode ser muito sonhado há muito tempo por várias pessoas que têm a mesma decisão, mas não foi bem o meu caso junto com o meu marido.
Decidimos isso em meados de 2015, quando as coisas em nossas vidas não estavam dando muito certo e o que tentamos construir no Brasil foi em vão. Não entrarei em detalhes, mas foram diversos acontecimentos que ocorreram conosco devido à economia, que começava a ser afetada mais fortemente na época. Esses fatos foram a gota d’água, pois eu, especialmente, estava infeliz com diversas outras coisas no País.
Refletindo sobre tudo e planejando um futuro melhor, meu marido e eu concordamos que a vida que queríamos não estava no Brasil, infelizmente.
Na verdade, mesmo antes dessa crise em nossa vida, a gente já havia imaginado morar em outro país, até porque alguns amigos – inclusive do Canadá -, estavam felizes e obtendo sucesso morando fora da nossa terra natal. Mas deixamos pra lá, pra um futuro, talvez. E seguimos a vida… até chegar na tal decisão em 2015.
Sem mais delongas, vou listar os principais motivos que fazem com que deixemos nosso País – assim como muita gente.
Lembrando que não é minha intenção falar mal do Brasil, porque há muitas coisas boas aqui – como a natureza, clima, culinária, parte das pessoas, etc. Porém, elas não são suficientes pra nos fazerem ficar.
1. Vivenciar a cultura de um país bem desenvolvido
Este é, claro, o primeiro motivo – ou não escolheríamos morar fora. Tem que querer muito viver com diferenças (começando pelo idioma), porque o processo não é fácil.
Enfim, queríamos ter a experiência de conhecer um país diferente, com pessoas de culturas diferentes, que falasse nativamente o inglês (nossa 2ª língua), e de morar em um lugar que não tivesse tantos defeitos como aqueles que vemos no Brasil.
2. Política corrupta e egoísta
Como sabemos, a corrupção no Brasil está ultrapassando todos os limites do aceitável, assim como o egoísmo dos políticos e partidos (em fazer o bem pra si e não pro povo, o que deveria acontecer). Com isso, a política não funciona.
A revolta que sinto com isso é indescritível, pois sei que é o que leva a outros fatores que foram determinantes para a minha decisão de sair do Brasil.
Falhas enormes na educação, saúde, transporte e, especialmente, na economia. Tudo isso leva ao desemprego, falta de oportunidades a todos e desigualdade social, o que eleva também a índices absurdos os níveis de criminalidade, o que comentarei a seguir.
3. Insegurança e violência
Este fator é o pior de todos causados pela má gestão generalizada na política. A criminalidade no País faz com que tenhamos medo de sair na rua à vontade, em qualquer horário ou local. Muita gente, assim como eu, evita essa interação com “o mundo exterior” no Brasil com o receio de ser roubada ou sofrer algo pior.
Por exemplo, já vi meus pais serem assaltados, ajoelhados e com arma na cabeça, no comércio deles (consegui fugir sem os assaltantes me verem). Sem contar que eles são assaltados de 2 a 3 vezes ao ano.
Também conheço muita gente que já foi assaltada ou furtada (também meu caso), estuprada ou assediada sexualmente (meu caso também), sequestrada, que levou bala perdida… Inclusive, já aconteceu de eu e meus familiares termos de deitar no chão de casa por causa de tiroteio do lado de fora. Nem dentro de casa estamos seguros!
E pensa que estar dentro de um apartamento é seguro? Há muito tempo que não. Vi recentemente um aviso no elevador do meu prédio que o prédio vizinho teve diversos apartamentos assaltados ou furtados, para termos “cuidado” ao entrar e sair do prédio. E sabemos que isso ocorre com frequência no país inteiro. Também vi a notícia que é comum agora também assaltantes subirem as sacadas e entrar nas unidades pela parte externa do prédio!
E não são só essas experiências particulares e de conhecidos. Basta ver os índices: 29,1 homicídios a cada 100 mil habitantes (por ano!); é considerado o 11º país mais inseguro do mundo; entre outros.
Enfim, queremos viver sem medo e ter filhos em um local seguro. E também estar num país onde todos têm oportunidades reais de ter uma vida digna, o que leva ao índice menor de criminalidade.
4. Alto custo de vida
Especialmente aqui em São Paulo, onde supostamente há mais oportunidades de emprego para o meu marido e eu, o custo de vida é altíssimo. E isso ocorre em maior ou menor grau – mas ainda absurdo – em todo o País.
No dia a dia: alimentos (com preços que não param de subir), consequentemente ao comer fora, itens básicos (até de medicamentos), itens que gostamos de consumir (jogos, roupas, maquiagem, etc), combustível do carro, plano de saúde (já que o SUS nem sempre é bom onde resido), preço do aluguel, juros de banco, etc etc etc.
E para melhorar a vida: comprar uma casa ou apartamento só depois de muito suor e financiamento a perder de vista, e o mesmo ocorre com a compra de um carro, que tem o preço muito maior que em outros países.
Com isso, o salário da maioria dos brasileiros vai facilmente embora, com poucas chances de economia e muita probabilidade de criação de dívidas.
5. Alto nível de desemprego e oportunidades de trabalho ruins
Eu até já desisti da minha área (comunicação) por conta disso. Pouquíssimas vagas e uma altíssima concorrência nas que existem. As empresas com vagas, por sua vez, geralmente pagam pouco, exploram, e fazem da sua vida um inferno – pois elas sabem que as pessoas estão precisando do emprego, mesmo que a um alto preço no dia a dia. Trabalha-se muito além do que se é pago, normalmente, e ainda tem que engolir muitos sapos.
Conversando com muitas outras pessoas, e até mesmo lendo algumas notícias ou relatos, vi que é o caso de quase todas as áreas no Brasil.
6. O “jeitinho brasileiro”
Esse jeitinho está em todo lugar. É o que leva muitas pessoas a burlarem qualquer coisa do dia a dia para se beneficiarem de alguma maneira, mesmo que prejudicando o próximo. Seja ocupando vagas de deficiente ou idosos, sentando nos assentos deles nos transportes, furando fila de carro ou dentro dos lugares mesmo, etc. No dia a dia isso irrita muito! E nos fazem ver que o problema da corrupção não está somente na política.
7. Falta de empatia, intolerância e preconceitos
Uma coisa muito presente no Brasil é o preconceito, em suas diversas formas: lgbtfobia, machismo, racismo, etc. Não é mais algo presente no “conhecido do conhecido”, mas em nossos próprios círculos. É triste ouvir ou ler determinados comentários, especialmente de pessoas próximas, sabendo que não há discussão que faça a pessoa mudar de ideia.
E não enxergo o preconceito isoladamente, pois ele é o reflexo da falta de empatia que vemos frequentemente no País. Afinal, ainda temos aqueles que condenam o outro não só por ser o que é, mas também por escolha de vida. São pessoas que não têm capacidade ou não querem se colocar no lugar do outro, ou simplesmente não entendem e não querem entender outra realidade.
O resultado disso é a intolerância e mais violência, seja em palavras ou fisicamente.
Alguns dados demonstram o que estou dizendo e são assustadores. O feminicídio (o assassinato de uma mulher devido ao seu gênero) mata 8 mulheres a cada 13 horas no Brasil; sem contar que a cada 2 minutos, 5 mulheres são agredidas no País.
Além disso, a cada 25 horas 1 pessoa LGBTQI+ é morta no Brasil por ser o que é; e o Brasil está no 1º lugar do ranking dos países que mais matam transsexuais.
E esses índices podem ser bem maiores, já que os registros podem ser falhos até mesmo por causa da impunidade que há no Brasil (outro problema) e o consequente medo das vítimas.
Concluindo…
Os motivos principais são esses listados. E são eles que fazem com que eu prefira ter uma família em outro lugar.
Queria muito que o Brasil melhorasse em todos esses aspectos, e sei que muitos deles vêm da educação em casa – que também é, geralmente, muito falha. Então, vai demorar pra eu ver minha terra natal ter uma balança mais equilibrada dos pontos positivos e negativos. Por enquanto, o lado dos pontos negativos, ao meu ver, é mais pesado.
Tem gente que pode dizer: “Você é covarde de sair, por que não fica e muda tudo isso?”
Pudera eu ser um agente de mudança, de não ter crises de ansiedade ou viver com medo, e de ter capacidade psicológica de entrar na política e enfrentar os tubarões dela. Afinal, ser um agente de mudança no Brasil atualmente é isso: nadar contra a corrente. Não é para todos, e é por isso que admiro aqueles que são – afinal, não é fácil uma pessoa do bem estar entre tanta gente destrutiva e ainda ter esperanças. Não tenho paciência, esse nível de força psicológica e talvez nem habilidade para isso.
O que me resta é torcer de longe para que o Brasil melhore, até por causa dos meus familiares e amigos que ficam, enquanto eu busco uma melhora mais imediata para a família que estou construindo.
Imagem de capa: my little red suitcase via Visualhunt.com / CC BY
2 comentários
Oi, tudo bem? Nossa, me identifiquei bastante com seu post. Acho o Brasil maravilhoso em vários aspectos, e tenho muito orgulho de ser brasileira, mas quando eu reflito sobre o estilo de vida e dia-a-dia que eu quero ter no meu futuro, percebo que ficar no Brasil não é uma opção. O que mais me revolta, além dos pontos que você citou, é o tal do jeitinho brasileiro. Acho que muitas vezes a gente não dá tanta importância, mas na minha opinião, é o reflexo da nossa política: a corrupção vem de baixo e das pequenas decisões que tomamos no nosso dia-a-dia. Esse jeitinho brasileiro me irrita muito!
Amei seu blog, super informativo e gostoso de ler!
Rachel
Oi Rachel, tudo bem e você?
Eu também adoro o Brasil em vários aspectos e me entristece ser um país lindo, com clima ótimo e algumas coisas da cultura serem benéficas e valiosas, mas haver todo o lado negativo que sabemos e que vemos se fortalecer dia após dia. Como você disse, os problemas vêm de baixo, da população. Não temos os políticos que temos à toa… né?
Obrigada pelo feedback sobre o blog e comentário! <3